sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O direito à violência dos espertos

Eu lembro de quando eu era a favor da pena de morte em casos de estupro e assassinato, porque não via uma solução pra essas pessoas. Eu ainda não vejo essa solução, mas em algum momento do meu crescimento enquanto formava o meu caráter eu li "não defenda o que não pode fazer com as próprias mãos". Eu larguei minha opinião na hora, virou nada acoplada da minha covardia. Eu me imaginei em uma sala com uma arma com um cara que estuprara e matara uma criança. "Pode matar". Imaginei olhar nos olhos dele e soube que ali eu desistiria. Não importa o que eu visse ali. Medo? Medo de perder a vida em um momento de tamanha vulnerabilidade. Indiferença? Aceitação de um futuro previsto. Eu não seria capaz de puxar o gatilho e se pudesse pediria "não atire". É claro que não é assim que funciona, mas conto a minha fantasia de provação. Antes, quando eu era a favor disso, a única coisa que me fazia hesitar era pensar nas pessoas inocentes que poderiam morrer em um sistema falho - como se isso não fosse motivo suficiente. A percepção de que não tenho humanidade, vivência e sabedoria pra julgar o valor da vida de outro ser humano me fez baixar a guarda. "Mas ele é um monstro, não é humano", bom, não tenho essa certeza, aos meus olhos é humano, sem humanidade mas ainda humano.
Nessa transição de formação de caráter eu fui muito tempo totalmente contra qualquer tipo de violência. Contra. Eu nem pensava! Era "paz e amor", "não serei como eles". Isso mudou... Criei um código de sobrevivência que diz:
1 - cuidado com os espertos, seja qual for sua aparente intenção, desde os falsos desconstruídos, aos maus caratér abertamente e os capazes de tudo para estarem certos e suprirem sua "felicidade".
Recentemente há um homem que conseguiu os holofotes das notícias por sua incrível habilidade de falar boçalidades que irritam pessoas como eu. Seu nome é Jair Bolsonaro. Ele é um exemplo de esperteza da qual devemos ter cuidado. Uma pessoa que quer chamar atenção e agradar aos ouvidos de um determinado público - que não vou rotular - e manipular outros. Ele não é burro, ignorante, mas pode abusar dessa característica dos outros. Vejo pessoas que eu considero boas caindo nos discursos dele por ingenuidade. Não sou injusta, eu acompanho as coisas que dizem dele e me controlo pra não sair compartilhando porque acho muita coisa exagerada - mesmo que me faça rir. A exposição mesmo que negativa agrada porque chama atenção. Ele faz/diz algo ruim e depois cria uma defesa absurda que agrade seu público, o mesmo que consente. Esse tipo de pessoa com o apoio que tem é perigosa. Eu me rodeio de discursos apaziguados mas não vejo paz. Não existe tranquilidade sabendo que tenho que dividir espaço com pessoas que acham "tudo bem" ser um escroto preconceituoso. Sabe o pior? Pra eles está tudo bem, do que vão temer afinal se queremos paz? A verdade é essa. Os espertos fazem o que fazem porque não são parados. Esse homem distorceu uma discussão com a Maria do Rosário há uns anos dizendo que ela o chamou de "estuprador" (mentira, pra variar) e usou como desculpa pra empurrar ela, usando da força dele. É sobre esse momento que quero falar. O momento em que um homem da posição e discursos dele se acha no direito de empurrar uma mulher da posição dela por algo que acha que ela disse... Ou pra chamar atenção. Aos espertos vale tudo. A indignação dela, suas palavras e reação condizem comigo, tem meu apoio. Mas do que adianta? Ele continua no mesmo lugar difamando e repetindo a história até hoje que é replicada por seus seguidores. Muito espertos porque não são parados, ninguém poem limite.
Em cada lugar, com cada pessoa usamos de códigos diferentes e máscaras para nos comunicar. Qual o código dessa gente que apoia ditadura, machismo, preconceito? Não é um código de paz, não falamos a mesma língua. Podemos ficar horas falando e impondo nossas opiniões e nada vai mudar em quem não quer ouvir. Estamos em sintonia diferente.
O que eu quero dizer com tudo isso? Que eu me sentiria melhor se eu soubesse que depois do empurrão a Maria do Rosário tivesse chutado o saco dele com tanta força que o tivesse feito ver estrelas. Ela receberia um processo e ele usaria disto contra ela até hoje. Mas, não usa igual? O problema é que não é sobre um balanceamento de atitudes mas sobre lados. Quem defende ele não se importa e vai culpar ela de qualquer jeito. Não é sobre o bem maior da sociedade, se foi golpe ou não. É sobre quem vai se ferrar. "Tudo bem ela levar um empurrão, é ptista" ok, acho pouco o cuspe do Jean Willys e queria muito, muito que aquele empurrão fosse devolvido com um chute. Ia me trazer paz saber que ele foi respondido na mesma língua que ele reproduz. Violência, ás vezes, faz bem, pra manter a ordem não é mesmo? A não ser quando você ataca quem não pode se defender ou sabe que isso não resolve nada.



terça-feira, 25 de outubro de 2016

é

São essas coisas importantes que eu entro em contato e não enxergo a importância. É tudo tão "nada demais", mas talvez não seja tão nada demais assim. Esquecendo as relevâncias e exaltando as banalidades. É essa a minha vida. Não saber colocar conhecimento, pessoas e acontecimentos nos lugares certos; trocar de lugar o que nem sequer tem um encaixe. É o não ouvir e saber o que foi dito; ouvir e não saber o que foi dito; não ouvir e errar o que foi dito. É ler demais o silêncio, o passado, a história das pessoas quando elas só querem ser lidas pelo que "mostram". É complicar o que é simples e desfazer o complexo. É como um eterno "eu não sei lidar" com uma esperança dos anos me ensinarem. É invejar a despreocupação, a indiferença e a facilidade de odiar que as pessoas têm; e cinco segundos depois pensar "por favor, que eu nunca fique assim", mas ás vezes é preciso fingir ser. É saber da importância de usar máscaras pra se proteger, mas que é preciso saber tirar elas e enxergar a si próprio com transparência e consciência; e se reconhecer na própria vida.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Cansada

Cansada de falsos descontruídos, de discursos vazios, de gente que afrouxa laços, de fingimento, de mentiras. Cansada dos rasos, submergidos pelos egos inflados, dos falsos "acredito em ti" e dos subliminares "tu não é capaz". Cansada de gente que suga sem nada a oferecer. Cansada de gente que não vê, dos pulmões inúteis sugando ar do mundo. Cansada dos maus julgadores, que julgam por eles mesmos. Cansada de tentar manter uma essência que deveria ser distribuída ao mundo e agora é limitada. Cansada dessa gente rasteira que só busca ser o comum fugazmente e ser aceito. Sem autenticidade. Sacos padronizados ou desejosos de o ser.
Cansada, mas viva. Sobrevivendo. Dividindo oxigênio e mantendo a essência graças a essa tal gratidão imensa na qual mergulho. Feliz até. Iluminando alguns dias e segurando outros. Apaixonando-me por mim mesma a cada dia que conheço as pessoas e assim, tornando-me mais um saco de ego inflado roubando oxigênio útil na Terra.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Eu sabia. Desde o início eu sabia que acabaria assim, tanto que me torturei o tempo todo sendo realista, não me entregando, lutando... para que talvez fosse mais fácil. Mas por que não é? A gente sempre acha que fica mais fácil. Mas não. Dói muito mesmo! Se sentir rejeitada pela pessoa que foi o centro das tuas preocupações silenciosas, a pessoa que tu admirou até nos defeitos, que tu quis proteger com unhas e dentes; a pessoa que tu conhecia o perfume, tinha vontade de tocar... só um pouco... saber como é tocar, abraçar... como pode isso? Querer tanto um abraço? Tão pouco... tem gente dando de graça, mas não é "o abraço". Eu entendo. Entendo que eu não mereço, que não se deve cobrar afeto e consideração. Sei bem quem eu sou e que não tenho nada a oferecer. Ninguém quer amor. Isso é só conversa fiada; se você só tem amor não vai ser suficiente. Precisa ter aparência e status, daí sim. Ninguém quer amor, não por que não goste de se sentir amado - porque todo mundo gosta -, mas sim porque não quer essa responsabilidade; essa pressão de corresponder expectativas. E quando você não tem aparência e status é isso que os seus sentimentos se tornam: uma expectativa a ser evitada. Ás vezes você pode ser promovido(a) a "levantador(a) de ego", o que é mais doloroso, mas é o que você tem não é? E muitas vezes você acaba aceitando essas migalhas emocionais porque é um(a) idiota e acima de tudo porque "a gente aceita o amor que acha que merece", e nossas frustrações são isso: nossa baixa auto estima nos fazendo aceitar o inaceitável e se contentar com as "migalhas".

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Sobre amar sem preferências

Eu amo o verão. Amo poder ir à praia, comer um picolé de uva, dormir no meu quarto gelado e não sentir falta de alguém pra me aquecer, usar pouca roupa e me sentir bem. Eu amo o outono. Amo ver aqueles plátanos alaranjados na estrada, receber abraços no meu aniversário e usar aquelas roupas meia-estação que ganho da minha mãe e quase nunca uso. Eu amo o inverno. Amo ficar na frente da lareira e sentir os dedos descongelarem depois de usar quatro insuficientes meias o dia inteiro. Amo ler embaixo das cobertas, tomar meu chocolate quente especial ou até uns goles de vinho tinto suave. Eu amo a primavera. Amo ver flores em todo lugar e a três-marias da minha mãe mais linda a cada ano e mais uma vez poder largar de mão aquele monte de roupas. Eu amo chuva. Amo o cheiro da grama molhada, o som da água caindo e a paz que me dá. Eu amo Sol. Amo olhar aquele céu azul e sentir que somos infinitos enquanto a vitamina D penetra os meus poros. Eu amo dias nublados. Amo como me deixam pensativa e o quão bonitos são. Me fascina ver os raios atravessando o céu ou o arco-íris que eu nunca pude tocar o fim.
Eu amo todas as estações, as tempestades, as secas, os mormaços, os frios congelantes do mesmo modo que amo as pessoas. Cheias de defeitos, de manias que me desagradam e opiniões absurdas. Mas eu amo. Amo porque todas elas têm uma coisa que me fascina mais do que qualquer tempo: seu melhor lado. Eu aguento o calor escaldante pra poder me refrescar com uma pedra de gelo. Não vejo a hora de ver os plátanos, mas ainda não terminei de ver as flores! E sei que vou sentir saudade delas se logo puder vê-los. Eu quero descobrir mais “melhores lados” que me façam apreciar, aceitar ou até sentir falta dos piores. É por esse e outros motivos que quando eu vejo um pano de prato sujo no balcão ou uma espátula suja de manteiga e doce de leite ao mesmo tempo eu dou risada. Não me irrita mais. Me faz rir. Me faz rir gostoso. É porque eu sei que eu sentiria falta até das rosetas na grama no inverno.

conselho de mãe: não se pode cobrar dos outros aquilo que não tem pra dar

Vivemos esperando... Tudo, todo o tempo. Esperamos pra tomar atitudes, pra pensar sobre o que precisa ser pensado, que as coisas melhorem sozinhas ou um momento propício. Aí quando a espera se relaciona às pessoas nos dizem "não espere nada de ninguém, nunca". Daí você sai repetindo que não espera, que não cria expectativas, que não confia em ninguém. Mas por que então se decepciona tanto com as pessoas? A decepção só existe se você estiver esperando uma coisa melhor, "eu não esperava isso dele", mas o que você esperava então? Por que você continua esperando - feito idiota - que as pessoas enxerguem as coisas se elas provam que não são capazes de ver ou não estão afim? Acho que faz parte da vida, das relações humanas... É uma das formas de sobreviver. A espera. Ter o que esperar. Se você já der a resposta negativa definitiva, como vai acordar de manhã? E por qual motivo se não tem nada de bom pra esperar das pessoas? Sejanos humanos em admitir que somos trouxas todos os dias e que isso nos mantém vivos. Nos dá um propósito para viver.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Sobre fé e esperança

Acho que o que chamam de esperança é quando você não desiste e acredita nos seus princípios, mesmo quando tudo dá errado. Parece um discurso simples "acredite nos seus sonhos", mas não sei se alguma vez me encontrei com alguém que realmente colocasse isso em prática. A prática é muito mais difícil. "Não desista", mas continuar tentando não é persistir lutando. Ás vezes até quem parece determinado na verdade já se entregou, por dentro.
O que chamam de fé é um pouco diferente. É você acreditar que independente do que aconteça os resultados virão para o bem. Alguns chamam isso de religiosidade, acreditar no destino que Deus fez, "não perca a fé". No entanto, não importa de onde você vai tirar isso, apenas tenha fé. Porque ver o caos que é lá fora, saber que todos estão dispostos a pisar uns nos outros e o pior: nas pessoas que você ama. E que você não pode fazer absolutamente nada pra impedir. Não pode cuidar de todos. Precisa confiar que saberão se cuidar em meio à necessidade. E quando a torcida e a confiança não impedirem que você e os que ama fiquem bem você precisa achar um modo pra dizer que "foi melhor assim". No fim todos saímos ferrados, mas temos que acreditar que "Deus nos preparou algo melhor" e eu acredito. Mesmo quando vejo tanto sofrimento nas ruas, eu acredito que se você tiver fé, você não só vai superar como vai encontrar algo melhor. Não perco a minha fé do destino e não perco a esperança de ver bons corações com seus respectivos merecimentos.