Eu amo o verão. Amo poder ir à praia, comer um picolé de uva, dormir no meu quarto gelado e não sentir falta de alguém pra me aquecer, usar pouca roupa e me sentir bem. Eu amo o outono. Amo ver aqueles plátanos alaranjados na estrada, receber abraços no meu aniversário e usar aquelas roupas meia-estação que ganho da minha mãe e quase nunca uso. Eu amo o inverno. Amo ficar na frente da lareira e sentir os dedos descongelarem depois de usar quatro insuficientes meias o dia inteiro. Amo ler embaixo das cobertas, tomar meu chocolate quente especial ou até uns goles de vinho tinto suave. Eu amo a primavera. Amo ver flores em todo lugar e a três-marias da minha mãe mais linda a cada ano e mais uma vez poder largar de mão aquele monte de roupas. Eu amo chuva. Amo o cheiro da grama molhada, o som da água caindo e a paz que me dá. Eu amo Sol. Amo olhar aquele céu azul e sentir que somos infinitos enquanto a vitamina D penetra os meus poros. Eu amo dias nublados. Amo como me deixam pensativa e o quão bonitos são. Me fascina ver os raios atravessando o céu ou o arco-íris que eu nunca pude tocar o fim.
Eu amo todas as estações, as tempestades, as secas, os mormaços, os frios congelantes do mesmo modo que amo as pessoas. Cheias de defeitos, de manias que me desagradam e opiniões absurdas. Mas eu amo. Amo porque todas elas têm uma coisa que me fascina mais do que qualquer tempo: seu melhor lado. Eu aguento o calor escaldante pra poder me refrescar com uma pedra de gelo. Não vejo a hora de ver os plátanos, mas ainda não terminei de ver as flores! E sei que vou sentir saudade delas se logo puder vê-los. Eu quero descobrir mais “melhores lados” que me façam apreciar, aceitar ou até sentir falta dos piores. É por esse e outros motivos que quando eu vejo um pano de prato sujo no balcão ou uma espátula suja de manteiga e doce de leite ao mesmo tempo eu dou risada. Não me irrita mais. Me faz rir. Me faz rir gostoso. É porque eu sei que eu sentiria falta até das rosetas na grama no inverno.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
conselho de mãe: não se pode cobrar dos outros aquilo que não tem pra dar
Vivemos esperando... Tudo, todo o tempo. Esperamos pra tomar atitudes, pra pensar sobre o que precisa ser pensado, que as coisas melhorem sozinhas ou um momento propício. Aí quando a espera se relaciona às pessoas nos dizem "não espere nada de ninguém, nunca". Daí você sai repetindo que não espera, que não cria expectativas, que não confia em ninguém. Mas por que então se decepciona tanto com as pessoas? A decepção só existe se você estiver esperando uma coisa melhor, "eu não esperava isso dele", mas o que você esperava então? Por que você continua esperando - feito idiota - que as pessoas enxerguem as coisas se elas provam que não são capazes de ver ou não estão afim? Acho que faz parte da vida, das relações humanas... É uma das formas de sobreviver. A espera. Ter o que esperar. Se você já der a resposta negativa definitiva, como vai acordar de manhã? E por qual motivo se não tem nada de bom pra esperar das pessoas? Sejanos humanos em admitir que somos trouxas todos os dias e que isso nos mantém vivos. Nos dá um propósito para viver.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Sobre fé e esperança
Acho que o que chamam de esperança é quando você não desiste e acredita nos seus princípios, mesmo quando tudo dá errado. Parece um discurso simples "acredite nos seus sonhos", mas não sei se alguma vez me encontrei com alguém que realmente colocasse isso em prática. A prática é muito mais difícil. "Não desista", mas continuar tentando não é persistir lutando. Ás vezes até quem parece determinado na verdade já se entregou, por dentro.
O que chamam de fé é um pouco diferente. É você acreditar que independente do que aconteça os resultados virão para o bem. Alguns chamam isso de religiosidade, acreditar no destino que Deus fez, "não perca a fé". No entanto, não importa de onde você vai tirar isso, apenas tenha fé. Porque ver o caos que é lá fora, saber que todos estão dispostos a pisar uns nos outros e o pior: nas pessoas que você ama. E que você não pode fazer absolutamente nada pra impedir. Não pode cuidar de todos. Precisa confiar que saberão se cuidar em meio à necessidade. E quando a torcida e a confiança não impedirem que você e os que ama fiquem bem você precisa achar um modo pra dizer que "foi melhor assim". No fim todos saímos ferrados, mas temos que acreditar que "Deus nos preparou algo melhor" e eu acredito. Mesmo quando vejo tanto sofrimento nas ruas, eu acredito que se você tiver fé, você não só vai superar como vai encontrar algo melhor. Não perco a minha fé do destino e não perco a esperança de ver bons corações com seus respectivos merecimentos.
domingo, 21 de fevereiro de 2016
the voice kids da vida real
Todo mundo maravilhado com a cumplicidade dessas crianças, a sinceridade em torcer pelos colegas e amigos, as palavras verdadeiras e maduras ao terem ou não sido escolhidas diante dos seus sonhos. Em que momento das nossas vidas perdemos essa ingenuidade e generosidade para com os que compartilham nossos sonhos? Em que momento decidimos "garantir o que é nosso" antes de estender a mão? Quantas vezes deixamos de dizer "usa tua voz grave" porque temos medo de sermos superados pelo talento dos nossos "adversários"? Quantas vezes você teve a oportunidade de empurrar alguém em direção ao sonho dela mas recuou com medo de perder seu lugar no mesmo sonho?
Tão bonito ver o quanto crianças ditas ingênuas podem nos ensinar nessa vida adulta e infeliz. Mas tão triste saber que a individualidade prevalece todos os dias mesmo quando se pode escolher. E no fim dos dias nos tornamos os tais adultos, rodeados de relações ilusórias e desconfiança. Tão bom seria todos darem as mãos e mostrar uns aos outros seus pontos fortes para que na hora da apresentação, quando as cadeiras virarem ou não, quando você ouvir um sim ou não, poder saber que não é somente vencer, mas vencer sabendo que todos deram o melhor de si. Só assim uma vitória é vitoriosa e só assim uma derrota tem um propósito no final.
Essas crianças têm nos mostrado a cada semana que o espetáculo só é um show quando ninguém tenta sabotar o papel do outro.
Tão bonito ver o quanto crianças ditas ingênuas podem nos ensinar nessa vida adulta e infeliz. Mas tão triste saber que a individualidade prevalece todos os dias mesmo quando se pode escolher. E no fim dos dias nos tornamos os tais adultos, rodeados de relações ilusórias e desconfiança. Tão bom seria todos darem as mãos e mostrar uns aos outros seus pontos fortes para que na hora da apresentação, quando as cadeiras virarem ou não, quando você ouvir um sim ou não, poder saber que não é somente vencer, mas vencer sabendo que todos deram o melhor de si. Só assim uma vitória é vitoriosa e só assim uma derrota tem um propósito no final.
Essas crianças têm nos mostrado a cada semana que o espetáculo só é um show quando ninguém tenta sabotar o papel do outro.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
história real sobre um padrão de beleza
Sou gorda desde que eu nasci e isso me trouxe várias experiências e problemas, eu diria. Vou contar aqui uma experiência pessoal, que não costumo falar muito sobre, mas que mudou completamente a minha vida e a minha forma de pensar sobre o mundo, as pessoas e a importância da empatia.
Quando eu fiz 14 anos estava muito acima do peso, mais do que eu já era acostumada, e começaram os comentários sobre meninas que, como eu, tinham conseguido perder peso pros tão sonhados 15 anos. Eu nunca quis uma festa, mas pela primeira vez senti realmente necessidade de emagrecer e vi esse tempo como uma boa deixa. Porque antes, como criança já haviam me colocado na natação, nutricionista, mas pra mim, tudo era sem motivo, não levei a sério. Já nos meus 14 anos eu quis de verdade. Senti uma vontade imensa de ser normal, eu queria ser invisível. Até hoje, não desejo ser atraente, desejo ser normal. Não tem nada pior do que ser um ponto de referência como "atraz da gorda", "amiga da gorda". Claro que ninguém nunca fala isso abertamente, mas não precisa. Nunca sofri bullyng. Acho que tenho muita sorte por isso, em todo período escolar, mesmo trocando de escola nunca me atacaram ou me fizeram sentir mal, como leio e escuto por aí nas experiências alheias. Enfim, eu queria ser normal, a qualquer custo. E eu decidi que seria. De todas as coisas que eu fiz quando criança nada tinha dado certo, então pensei em entrar numa dieta radical, mesmo. Eu não comia. É. Evitava beber água porque eu me pesava todos os dias e isso aumentava o peso na balança. Quando me pressionavam pra comer eu comia salada ou uma fruta, que também reduzi por ter açúcar. Emagreci 27kg em menos de cinco meses, talvez quatro. Desmaiei algumas vezes. Entrei pra academia e com medo de desmaiar lá eu comecei a comer uma vez por dia, no almoço, só salada ainda assim. Me sentia fraca, tinha muito sono. Dormia nas aulas de manhã e no técnico de noite. Virei vegetariana. Fiquei com anemia e comecei a esquecer das coisas, não lembrava, era agoniante. A memória é uma coisa que sempre estimei muito e até hoje quando demoro pra lembrar de algo, acho que foi porque errei naquele tempo com a minha saúde. Acho que o que começou a me preocupar foi isso, quando eu vi que podia atrapalhar minha saúde mental. Eu já estava no meu peso saudável e lembro que a personal da academia começou a me questionar sobre o que eu comia, porque tinha perdido peso muito rápido. Eu mentia. Dizia que ia na nutricionista, mas ela nunca acreditou, sempre ficava me cuidando na eternidade que eu passava nos aparelhos aeróbicos. Me convenceu que eu estava no meu peso saudável com aquelas medições de gordura que eles fazem. Eu me olhava no espelho e não via diferença nenhuma. As pessoas me elogiavam, eu ficava feliz, mas não parecia ter mudado nada. Hoje, nas fotos vejo a diferença, mas na época eram só números... Cogitei estar doente mentalmente, fiquei preocupada em estar com anorexia e não conseguir ver os resultados. Fiquei preocupada com meu cérebro, ficava sempre muito desligada. Já queria Medicina naquela época então decidi fazer uma dieta que seria mais saudável pra proteger o meu cérebro. Foi desesperador. Eu comia muito pouco, ainda com muita salada mas sem jantar. Esse pouco que eu comia me fez engordar. Eu me pesava e ficava apavorada. Sim, era o meu corpo desesperado por nutrientes, absorvendo tudo sem saber quando ia ter alimento de novo. Lembro de chorar muito no início. Engordei 10kg muito rápido e já não quis mais sair de casa. Portanto, parei de ir pra academia. O que só piorou. Depois que ganhei mais 5kg parei de me cuidar de vez. Não comia como antes mas o pouco já era suficiente pra recuperar tudo que eu perdi. Fiquei extremamente deprimida, me sentia um lixo, como se aquilo fosse o fim do mundo, tinha vergonha de olhar pras pessoas que antes tinham me incentivado. Perdi a vontade de viver. De tudo. Virei um robô. A única coisa que sobrou em mim foi que eu queria ser médica um dia. Acho que isso foi o que me fez continuar, mesmo que como um saco vazio vagando por aí. No entanto, era uma coisa que eu queria, mas já não sabia mais o porquê, que se perdeu da minha memória nesse processo de dor física, mental. De novo eu fiquei preocupada... Com a minha saúde mental. Percebi que mantinha a mente vazia por tempo demais, pra fugir dos meus sofrimentos e esse escapismo me levava pra longe do meu objetivo. Me agarrei com tudo nos amigos e nas pessoas que eu amava pra me proteger. Pensava nos problemas deles e vivia a vida deles pra não ter que me preocupar com os meus fracassos e lembranças. Descobri a minha risada estravagante na mesma época que descobri que "quem é de verdade sabe quem é de mentira" ou "o essencial é invisível aos olhos". Me encontrei em um mundo onde o que eu vi foram pessoas preocupadas com a minha felicidade e não com quantos quilos eu pesava. Pessoas que sim, se importam com a minha saúde e é por isso que me corrigiram e apoiaram nas horas certas e que, naquele momento, eu estaria melhor com os quilos a mais. Me senti abençoada, sortuda, aliviada por não ter sido rejeitada pelos velhos amigos e sido abraçada pelos novos. Mas eu não estava bem não... Sou incapaz de descrever o que eu sentia e pensava sobre tudo isso naqueles dias... Não desejo isso pra ninguém. Não sei o que seria de mim sem as pessoas maravilhosas que me rodiavam. Eu pensava coisas horríveis. Me culpava e aos outros. Me revoltei contra o mundo. Um mundo que vivia pela aparência, que me deixou passar fome porque olhar pra mim gorda não era "atrativo". Era culpa dos outros. Tudo. Até a minha própria culpa. Sabe, isso não deixa de ser verdade, no entanto, olhar desse jeito negativo só piora tudo. Hoje eu sei. Acho que eu fui extramamente arrogante ao pensar certas coisas. E como tudo que vai volta... Voltou. Desabei de vez quando não passei no vestibular a primeira vez. Era como se o tempo todo eu estivesse pendurada na borda de um buraco e quando fiz aquela prova foi como se pisassem nas minhas mãos pra que eu afundasse de vez. Fui ao fundo do poço, sem dúvida. Virei um robô perfeito. Acordava todos os dias 06:30 da manhã pra estudar. Não botei o despertador no soneca nunca naquele ano. Ficava sozinha em casa pra estudar mais. De noite ia pro cursinho e não conversava com ninguém pra não perder a atenção das aulas. Me isolei. Perdi minha humanidade, no momento em que passei a ignorar tudo ao meu redor. Foco. Foco. Foco. Eu ia mal nos simulados, no fim do ano percebi que não ia passar. Chorei um monte. Não sabia o que fazer, achava que ninguém ia me entender se eu conversasse com alguém. Dessa vez eu só culpei a mim mesma. Burra, burra, burra. Não sei quando eu percebi meu nível de doença, se foi quando eu saí de uma aula chorando simplesmente porque não conseguia mais prestar atenção no que o professor falava, de cansaço, e fiquei com raiva de mim ou se foi quando comecei a escutar as pessoas ao meu redor e as palavras dos professores, sobre a vida, que começaram a fazer sentido. Eu não era a única. Que egoísmo foi pensar que fosse... Comecei a ouvir e a falar com as pessoas que sentaram comigo o ano inteiro e descobri que eram muito legais. E que eu podia ter conhecido mais elas se não estivesse no piloto automático. Decidi que pegaria mais leve comigo mesma e que no ano seguinte faria terapia pra encontrar um ponto de equilíbrio na minha vida. E fiz isso. Sou muito teimosa, mas a terapia me ajudou a descobrir meus medos, me fez reencontrar quem eu era e os motivos de estar ali e até encontrar novos. Socializei até demais, mas não me arrependo. Foi bom, pra me recuperar. Mesmo estando bem, eu demorei pra voltar a rir de verdade... Quando voltei, não parei mais. Tirei a culpa aos poucos dos meus ombros e perdoei os erros dos outros. Amadureci muito quando percebi que a pior das atrocidades pode ser perdoada e passei a ver a inocência na maldade dos tantos vilões que temos por aí, que quase ninguém vê. Parei de ter vergonha de amar tanto (porque queria ser durona). Me controlo um pouco ainda, mas me esforço pra demonstrar e dizer mais o que eu sinto. Aprendi a me amar e a rir mais. Aprendi que auto estima não é ter um corpo dentro dos padrões, mas o que você faz com ele. Do que adianta ser "perfeita" se você aceita as imposições dos outros, seu namorado, sua família? Auto estima é impor limites, principalmente aos que você ama e não há nada mais difícil! Auto estima é saber quem você é, do seu valor, é conhecer todos os seus lados com transparência e ainda assim conseguir gostar de si mesmo. Descobri que preciso cuidar mais de mim física e mentalmente pra poder cuidar dos outros. Voltei a emagrecer e a fazer exercícios de maneira correta, não me privo de nada. Nunca mais vou ultrapassar esse limite. Quando eu vejo algo errado falo porque agora estou prestando atenção de verdade! Estou vivendo. Do meu jeito. Sem tentar agradar ninguém ou parecer alguma coisa. Do MEU jeito. Não tem nada mais prazeroso no mundo do que fazer suas próprias escolhas, mesmo sem ter chegado aonde se quer chegar. Não há nada mais prazeroso no mundo do que ser aceito mesmo não passando no vestibular, não sendo a pessoa mais linda, muito menos inteligente ou com um status social grandioso. Não tem nada mais prazeroso no mundo do que não ter nada do que falam por aí que é importante pra oferecer e ainda assim ser amado. Nada mais prazeroso do que aceitar a si mesmo e se amar.
Acho que me perdi um pouco e ficou muito longo (olha que pulei várias partes), mas tô orgulhosa de ver que minha memória é excelente pra vida, mesmo que não seja pra matéria, e que as lembranças vão ficar pra sempre, de lição, e eu espero colecionar muitas mais. O foco do texto era só contar uma história sobre o que tentar ser aceito pode fazer com a cabeça de uma pessoa. Há muito vitimismo por aí com relação a preconceitos. No caso de ser gordo, não sofri muito preconceito, no entanto eu não me sentia aceita por causa do que eu ouvia falar. Hoje, na minha opinião, o preconceito é mascarado com o discurso "você precisa ser saudável". Por favor. Não seja essa pessoa. No fundo todos sabem que é a aparência que move essa onda fit. Não seja hipócrita, seja transparente consigo mesmo, não há vergonha em querer se adequar a um padrão pra se sentir melhor, somos humanos! Vergonha há em ultrapassar os limites do bem-estar como eu fiz. Você não precisa sentir atração por um(a) gordo(a), achar lindo, casar. Você precisa respeitar! Passei por tudo isso sem sofrer ataques diretos, mas me coloco no lugar de quem já sofreu e acho que se foi difícil assim pra mim, imagina sendo espizinhada. Acho que eu nunca teria saído daquele buraco.
Eu tenho sorte.
Muita sorte! Não deixe que outras pessoas precisem da mesma sorte.
Obs: não vou parar de rir, nunca mais.
Quando eu fiz 14 anos estava muito acima do peso, mais do que eu já era acostumada, e começaram os comentários sobre meninas que, como eu, tinham conseguido perder peso pros tão sonhados 15 anos. Eu nunca quis uma festa, mas pela primeira vez senti realmente necessidade de emagrecer e vi esse tempo como uma boa deixa. Porque antes, como criança já haviam me colocado na natação, nutricionista, mas pra mim, tudo era sem motivo, não levei a sério. Já nos meus 14 anos eu quis de verdade. Senti uma vontade imensa de ser normal, eu queria ser invisível. Até hoje, não desejo ser atraente, desejo ser normal. Não tem nada pior do que ser um ponto de referência como "atraz da gorda", "amiga da gorda". Claro que ninguém nunca fala isso abertamente, mas não precisa. Nunca sofri bullyng. Acho que tenho muita sorte por isso, em todo período escolar, mesmo trocando de escola nunca me atacaram ou me fizeram sentir mal, como leio e escuto por aí nas experiências alheias. Enfim, eu queria ser normal, a qualquer custo. E eu decidi que seria. De todas as coisas que eu fiz quando criança nada tinha dado certo, então pensei em entrar numa dieta radical, mesmo. Eu não comia. É. Evitava beber água porque eu me pesava todos os dias e isso aumentava o peso na balança. Quando me pressionavam pra comer eu comia salada ou uma fruta, que também reduzi por ter açúcar. Emagreci 27kg em menos de cinco meses, talvez quatro. Desmaiei algumas vezes. Entrei pra academia e com medo de desmaiar lá eu comecei a comer uma vez por dia, no almoço, só salada ainda assim. Me sentia fraca, tinha muito sono. Dormia nas aulas de manhã e no técnico de noite. Virei vegetariana. Fiquei com anemia e comecei a esquecer das coisas, não lembrava, era agoniante. A memória é uma coisa que sempre estimei muito e até hoje quando demoro pra lembrar de algo, acho que foi porque errei naquele tempo com a minha saúde. Acho que o que começou a me preocupar foi isso, quando eu vi que podia atrapalhar minha saúde mental. Eu já estava no meu peso saudável e lembro que a personal da academia começou a me questionar sobre o que eu comia, porque tinha perdido peso muito rápido. Eu mentia. Dizia que ia na nutricionista, mas ela nunca acreditou, sempre ficava me cuidando na eternidade que eu passava nos aparelhos aeróbicos. Me convenceu que eu estava no meu peso saudável com aquelas medições de gordura que eles fazem. Eu me olhava no espelho e não via diferença nenhuma. As pessoas me elogiavam, eu ficava feliz, mas não parecia ter mudado nada. Hoje, nas fotos vejo a diferença, mas na época eram só números... Cogitei estar doente mentalmente, fiquei preocupada em estar com anorexia e não conseguir ver os resultados. Fiquei preocupada com meu cérebro, ficava sempre muito desligada. Já queria Medicina naquela época então decidi fazer uma dieta que seria mais saudável pra proteger o meu cérebro. Foi desesperador. Eu comia muito pouco, ainda com muita salada mas sem jantar. Esse pouco que eu comia me fez engordar. Eu me pesava e ficava apavorada. Sim, era o meu corpo desesperado por nutrientes, absorvendo tudo sem saber quando ia ter alimento de novo. Lembro de chorar muito no início. Engordei 10kg muito rápido e já não quis mais sair de casa. Portanto, parei de ir pra academia. O que só piorou. Depois que ganhei mais 5kg parei de me cuidar de vez. Não comia como antes mas o pouco já era suficiente pra recuperar tudo que eu perdi. Fiquei extremamente deprimida, me sentia um lixo, como se aquilo fosse o fim do mundo, tinha vergonha de olhar pras pessoas que antes tinham me incentivado. Perdi a vontade de viver. De tudo. Virei um robô. A única coisa que sobrou em mim foi que eu queria ser médica um dia. Acho que isso foi o que me fez continuar, mesmo que como um saco vazio vagando por aí. No entanto, era uma coisa que eu queria, mas já não sabia mais o porquê, que se perdeu da minha memória nesse processo de dor física, mental. De novo eu fiquei preocupada... Com a minha saúde mental. Percebi que mantinha a mente vazia por tempo demais, pra fugir dos meus sofrimentos e esse escapismo me levava pra longe do meu objetivo. Me agarrei com tudo nos amigos e nas pessoas que eu amava pra me proteger. Pensava nos problemas deles e vivia a vida deles pra não ter que me preocupar com os meus fracassos e lembranças. Descobri a minha risada estravagante na mesma época que descobri que "quem é de verdade sabe quem é de mentira" ou "o essencial é invisível aos olhos". Me encontrei em um mundo onde o que eu vi foram pessoas preocupadas com a minha felicidade e não com quantos quilos eu pesava. Pessoas que sim, se importam com a minha saúde e é por isso que me corrigiram e apoiaram nas horas certas e que, naquele momento, eu estaria melhor com os quilos a mais. Me senti abençoada, sortuda, aliviada por não ter sido rejeitada pelos velhos amigos e sido abraçada pelos novos. Mas eu não estava bem não... Sou incapaz de descrever o que eu sentia e pensava sobre tudo isso naqueles dias... Não desejo isso pra ninguém. Não sei o que seria de mim sem as pessoas maravilhosas que me rodiavam. Eu pensava coisas horríveis. Me culpava e aos outros. Me revoltei contra o mundo. Um mundo que vivia pela aparência, que me deixou passar fome porque olhar pra mim gorda não era "atrativo". Era culpa dos outros. Tudo. Até a minha própria culpa. Sabe, isso não deixa de ser verdade, no entanto, olhar desse jeito negativo só piora tudo. Hoje eu sei. Acho que eu fui extramamente arrogante ao pensar certas coisas. E como tudo que vai volta... Voltou. Desabei de vez quando não passei no vestibular a primeira vez. Era como se o tempo todo eu estivesse pendurada na borda de um buraco e quando fiz aquela prova foi como se pisassem nas minhas mãos pra que eu afundasse de vez. Fui ao fundo do poço, sem dúvida. Virei um robô perfeito. Acordava todos os dias 06:30 da manhã pra estudar. Não botei o despertador no soneca nunca naquele ano. Ficava sozinha em casa pra estudar mais. De noite ia pro cursinho e não conversava com ninguém pra não perder a atenção das aulas. Me isolei. Perdi minha humanidade, no momento em que passei a ignorar tudo ao meu redor. Foco. Foco. Foco. Eu ia mal nos simulados, no fim do ano percebi que não ia passar. Chorei um monte. Não sabia o que fazer, achava que ninguém ia me entender se eu conversasse com alguém. Dessa vez eu só culpei a mim mesma. Burra, burra, burra. Não sei quando eu percebi meu nível de doença, se foi quando eu saí de uma aula chorando simplesmente porque não conseguia mais prestar atenção no que o professor falava, de cansaço, e fiquei com raiva de mim ou se foi quando comecei a escutar as pessoas ao meu redor e as palavras dos professores, sobre a vida, que começaram a fazer sentido. Eu não era a única. Que egoísmo foi pensar que fosse... Comecei a ouvir e a falar com as pessoas que sentaram comigo o ano inteiro e descobri que eram muito legais. E que eu podia ter conhecido mais elas se não estivesse no piloto automático. Decidi que pegaria mais leve comigo mesma e que no ano seguinte faria terapia pra encontrar um ponto de equilíbrio na minha vida. E fiz isso. Sou muito teimosa, mas a terapia me ajudou a descobrir meus medos, me fez reencontrar quem eu era e os motivos de estar ali e até encontrar novos. Socializei até demais, mas não me arrependo. Foi bom, pra me recuperar. Mesmo estando bem, eu demorei pra voltar a rir de verdade... Quando voltei, não parei mais. Tirei a culpa aos poucos dos meus ombros e perdoei os erros dos outros. Amadureci muito quando percebi que a pior das atrocidades pode ser perdoada e passei a ver a inocência na maldade dos tantos vilões que temos por aí, que quase ninguém vê. Parei de ter vergonha de amar tanto (porque queria ser durona). Me controlo um pouco ainda, mas me esforço pra demonstrar e dizer mais o que eu sinto. Aprendi a me amar e a rir mais. Aprendi que auto estima não é ter um corpo dentro dos padrões, mas o que você faz com ele. Do que adianta ser "perfeita" se você aceita as imposições dos outros, seu namorado, sua família? Auto estima é impor limites, principalmente aos que você ama e não há nada mais difícil! Auto estima é saber quem você é, do seu valor, é conhecer todos os seus lados com transparência e ainda assim conseguir gostar de si mesmo. Descobri que preciso cuidar mais de mim física e mentalmente pra poder cuidar dos outros. Voltei a emagrecer e a fazer exercícios de maneira correta, não me privo de nada. Nunca mais vou ultrapassar esse limite. Quando eu vejo algo errado falo porque agora estou prestando atenção de verdade! Estou vivendo. Do meu jeito. Sem tentar agradar ninguém ou parecer alguma coisa. Do MEU jeito. Não tem nada mais prazeroso no mundo do que fazer suas próprias escolhas, mesmo sem ter chegado aonde se quer chegar. Não há nada mais prazeroso no mundo do que ser aceito mesmo não passando no vestibular, não sendo a pessoa mais linda, muito menos inteligente ou com um status social grandioso. Não tem nada mais prazeroso no mundo do que não ter nada do que falam por aí que é importante pra oferecer e ainda assim ser amado. Nada mais prazeroso do que aceitar a si mesmo e se amar.
Acho que me perdi um pouco e ficou muito longo (olha que pulei várias partes), mas tô orgulhosa de ver que minha memória é excelente pra vida, mesmo que não seja pra matéria, e que as lembranças vão ficar pra sempre, de lição, e eu espero colecionar muitas mais. O foco do texto era só contar uma história sobre o que tentar ser aceito pode fazer com a cabeça de uma pessoa. Há muito vitimismo por aí com relação a preconceitos. No caso de ser gordo, não sofri muito preconceito, no entanto eu não me sentia aceita por causa do que eu ouvia falar. Hoje, na minha opinião, o preconceito é mascarado com o discurso "você precisa ser saudável". Por favor. Não seja essa pessoa. No fundo todos sabem que é a aparência que move essa onda fit. Não seja hipócrita, seja transparente consigo mesmo, não há vergonha em querer se adequar a um padrão pra se sentir melhor, somos humanos! Vergonha há em ultrapassar os limites do bem-estar como eu fiz. Você não precisa sentir atração por um(a) gordo(a), achar lindo, casar. Você precisa respeitar! Passei por tudo isso sem sofrer ataques diretos, mas me coloco no lugar de quem já sofreu e acho que se foi difícil assim pra mim, imagina sendo espizinhada. Acho que eu nunca teria saído daquele buraco.
Eu tenho sorte.
Muita sorte! Não deixe que outras pessoas precisem da mesma sorte.
Obs: não vou parar de rir, nunca mais.
Por que eu odeio socializar
No início achava que eu era estranha e devia ter algum problema psicológico por ser tão diferente das pessoas que eu conheço e não gostar das mesmas coisas que elas. Agora eu tenho certeza disso, que sou diferente, não que tenho problemas psicológicos. Meu único problema é preguiça de socializar. É muito chato. Aquela coisa de ter que se abrir, se fosse só ouvir as pessoas, mas ter que contar a própria vida é um saco! Tenho vontade de gritar "me deixem aqui em silêncio, por favor", mas seria rude demais. E eu realmente gosto de ouvir as pessoas. Só não gosto de falar de mim, só que isso faz parte do convívio (irritante) social. Daí ou as pessoas que você convive não te conhecem direito ou elas são muito observadoras. No primeiro caso é uma experiência terrível, porque você tem que passar o tempo inteiro se explicando. Porque você gosta da pessoa, porque escuta ela e conhece ela, mas não o contrário. Graças ao seu silêncio ela fica fazendo suposições erradas ao seu respeito, porque diferente do segundo caso, ela não é boa observadora. O que torna o convívio social maçante. No segundo, você fica feliz que não precisa ficar explicando o que pensa ou o que faz, porque a pessoa é um bom observador(a), mas daí isso irrita também. Porque esses seres humanos perceptivos sabem demais ao teu respeito e ficam lendo a tua mente! No fim, é tudo muito chato. Conviver com pessoas. Irritante e me dá muita preguiça. Daí todas essas pessoas que você gosta, gostam de coisas que você não entende ou não gosta. Tipo ir numa festa ou fazer uma viagem entre amigos. Não sei qual o pior programa, será que eu sou a única que acho essas coisas abomináveis? A diferentona? hahaha. No primeiro, se você não estiver extremamente bêbado é uma experiência entediante. Você tem que ir num lugar, parar numa fila (onde já tem um monte de pessoas bêbadas, difíceis de dialogar), pagar pra entrar. Daí lá você não consegue se mexer direito, não consegue conversar com as pessoas que te fizeram ir ali, você é obrigado a ficar em pé e fingir que gosta de dançar (porque eu não gosto!), jogam bebida no seu sapato caro e ficam se esfregando em ti depois que você ficou horas se arrumando e ficando cheirosa. Você tem que rezar pra não precisar ir no banheiro porque são nojentos! Ficar olhando aquelas pessoas se agarrando com gente que nunca viu e se perguntando "meus Deus, você sabe onde esse ser humano enfiou a boca???" Daí você não consegue enxergar direito também, porque é escuro e tem muita fumaça! Será que só eu gosto de realmente olhar pras pessoas quando estou com elas? No segundo caso, você vai pra casa da praia com os amigos, achando que vai curtir as férias. Chega lá e tem que passar os dias limpando e fazendo tudo sozinho(a) porque descobre que seus amigos são uns mimados que não sabem lavar uma louça sequer e agem como se só eles estivessem de férias. Todo mundo dorme amontoado e feliz (o que é impossível). Esses dois modos de socializar adorados pela maioria são o meu pavor pessoal. Não consigo me imaginar me divertindo realmente fazendo qualquer uma dessas coisas e é hilário gostar de pessoas que curtem isso, porque elas também não se imaginam se divertindo como eu. Enfim, acho que não tenho nenhum problema mental por não gostar de nada disso, porque ainda assim eu gosto de gente e de estar com pessoas, mesmo que, ás vezes, em silêncio. Solidão é diferente de estar sozinho. Gosto de ficar sozinha, mas não de me sentir assim. Gosto de ouvir muito e falar pouco, mas acima de tudo, quando eu quiser falar gosto ter alguém pra me ouvir.
todo mundo precisa de terapia
Tem gente que paga um terapeuta, tem gente que se abre com os amigos, chora, desconta em alguém, faz música, poesia, desenha... Eu não sei fazer nada disso, por isso eu escrevo. As minhas palavras não precisam ter um sentido, não precisam ser extremamente corretas ou serem entendidas por todo mundo. São só um desabafo. Como um grito desesperado de alguém que não aguenta mais ou simplesmente alguém que se expressa mal e quer compartilhar algo. O lance é que todo mundo precisa disso, compartilhar. Acredito que o silêncio é o grito de maior agonia que se pode esperar de alguém. Me preocupo quando não consigo colocar meus sentimentos em palavras ou quando é tudo tão vazio que não tenho absolutamente nada há dizer. Aí que mora o problema. Por isso, acho que todos deveriam compartilhar suas dores do seu jeito, mesmo que, as piores a gente nunca conte a ninguém. O importante é não deixar acumular e se você algum dia já fez isso, sabe que é catastrófico, então, vamos lá.
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