"Uhul, vamos lá, UFRGS 2016 então?"
...
"Falando sério, vai me ignorar de novo?"
"Sim."
"Tem tantas coisas legais pra fazer e tu vai estudar de novo? Tu ainda não percebeu que é burra e que burros não passam no vestibular? Tenho que te lembrar disso todo dia. Burro é tão burro que não percebe. Acha mesmo que insistir vai mudar alguma coisa na tua capacidade?"
"Não é fácil. Todo mundo precisa tentar de novo quando não consegue..."
"Tá. mas QUATRO vezes? Que vergonha hein. Acho que já deu pra ti. Vai fazer outra coisa da vida"
"Tipo?!?"
"Tipo trabalhar com a mãe, é moleza. Aliás, não sei porque tu não se rende e faz isso mesmo. Tu já entende um pouco e pode tirar férias com nossos pais"
"Hahaha, essa é a solução pra ti? Que gênia! Passar o resto da vida fazendo uma coisa que eu desprezo atrás de uma mesa, morrendo de tédio. Uma infeliz e mal amada."
"Minha opção é melhor do que a tua. Tu não vai passar pra Medicina nunca, então prefere passar o resto da vida fazendo cursinho e estudando?"
"Eu vou passar."
"Vai é? Pode me garantir isso? Quando? Convença-me"
"Não preciso te convencer de nada, tu não é real."
"Tu diz isso porque sabe que não vai conseguir..."
"Na verdade, eu vou sim. Porque não tenho outra opção e prefiro morrer a estar fazendo outra coisa. Burra ou não, vou continuar tentando mudar isso. Não vou me conformar. Agora, me deixa acabar esse exercício aqui"
"Opa, errou não é? Hahaha Tô vendo que os planos pro futuro vão demorar, enquanto isso eu fico te vendo criar bunda, sem nosso namorado, sem emprego, causando desgosto na família inteira. Ai ai"
"Não erraria se tu fizesse um pouco de silêncio. Por favor?"
"Ótimo! Agora é culpa é MINHA pelo teu fracasso. Isso mesmo. Fracassados sempre acham um culpado. É a tua cara Amanda, pode mandar ver, diz que fui eu"
"Não tô te culpando por merda nenhuma, eu que sou culpada por te deixar opinar na minha vida"
"Que vida?"
"Vai te fude"
"Opa, começou a baixar o nível... De novo."
"Olha só, antes tu tava quietinha há dois dias e foi bom. Por que não se cala de novo? Sério. Se tu fizer silêncio ou até me ajudar, juntas a gente consegue. Agora, se tu ficar falando essas coisas pra mim, só vai piorar. Tu sabe que não vou parar."
"Eu sei. Eu moro aqui. Mas quem sabe, se só hoje a gente sei lá, não fosse visitar os avós?"
"Não dá. Tenho que acabar isso aqui."
Suspiro.
Sorriso.
"Ah, tudo bem. Pode estudar e vê se coloca alguma coisa nessa cabeça, não aguento mais ficar presa em casa estudando."
"Pode deixar! Obrigada!!"
segunda-feira, 30 de março de 2015
sábado, 28 de março de 2015
"estas alegrias violentas têm fins violentos" (...)
(,,,) "falecendo no triunfo como fogo e pólvora" e ainda assim nos arriscamos por essa alegria, esse momento. Mesmo que o fim seja de mesma intensidade, porém trágico. A tragédia vem na mesma proporção do gozo. A decepção é a mesma que o tanto que você decidiu confiar. O luto é o mesmo que você amou. Então, por que nos jogamos com tudo nessa satisfação de sentimentos humanos, se, sabemos que depois tudo vai voltar com a mesma força? Porque precisamos desses sentimentos, os bons e os ruins, para nos ensinar a viver e a sermos humanos. Necessitamos do amor do mesmo modo que a dor deve nos mostrar a proporção certa de amar.
segunda-feira, 23 de março de 2015
domingo, 22 de março de 2015
essa loucura toda é infinita
Sou a pessoa mais fácil de agradar, mas junto disso a mais
fácil de entristecer também. Uma palavra, um gesto, um sei lá, pode acabar com
meu estado de espírito. É muito ruim viver com isso. As pessoas fazem piada
sobre transtorno de bipolaridade porque não têm ideia do quanto é infernal
mudar da euforia á depressão profunda em trinta segundos. Em um momento você
pensa que o dia vai ser perfeito e quando se deita pra dormir tem vontade de se
debruçar em lágrimas. É claro que, é algo que se pode acostumar. Eu me xingo
mentalmente “Quanto drama só por causa disso, o que aconteceu com a alegria de
segundos atrás?” E me esforço ao máximo pra espantar os pensamentos destrutivos
e infelizes. Loucura não precisa de diagnóstico. Sou puramente louca e tenho
consciência disso. Mas, quem não é louco? É claro que eu tenho uma teoria pra o
que se passa na minha cabeça e me levar a essa loucura, nessa montanha russa de
sentimentos – deve ser por isso que tenho medo de altura -. Acredito que seja
parte do hábito de usar minha visão como principal recurso na minha vida. Eu
tenho uma ânsia por observar tudo e é tão forte que me esqueço de piscar, quando
eu percebo meus olhos estão secos. Eu não queria piscar pra não perder nenhuma
imagem. Eu observo as pessoas que acho interessantes e descarto imediatamente
as previsíveis e entediantes. É literalmente como se tivesse um monte de caixas
na minha mente com “interessante”, “temos algo em comum”, “precisa de ajuda”, “mau
caráter”, “irritante”, “família”, etc. São muitas caixas. Quando eu vejo
determinada pessoa de uma caixa meu cérebro começa a implorar que eu observe
tudo que puder ser útil de acordo com a descrição dessa pessoa. Não sei o que
isso parece a alguém de fora, mas eu posso jurar que em poucas semanas eu
aprendo muito sobre essas pessoas. Isso torna a comunicação simples em uma via,
só que ao contrário trava. Porque agora vem a parte mais louca: como eu observo
tudo isso nas pessoas, como eu aprendo tanto sobre elas, sobre coisas que elas
não precisam me dizer eu simplesmente tento evitar que elas possam ler qualquer
coisa em mim. Eu bloqueio tudo, eu inverto os gestos que indicariam o que eu
sinto, mudo qualquer coisa. Por quê? Porque eu não quero que as pessoas me
conheçam. Quero saber tudo sobre elas e isso me interessa, mas não quero que
elas saibam muito de mim. Isso me assusta. Quem gosta de sentir medo? Tudo isso
acontece em uma fração de segundos, é um instinto. É como se a minha cabeça me mandasse
mentir pra me proteger. Algumas vezes conheço pessoas maravilhosas e queria
retribuir esse “conhecimento” deixando que elas me julguem, não eu. Mas eu
nunca sou capaz. Me apavora. Assim como me apavora quando me surpreendem, quando
alguém muda de direção e eu tenho que fazer todas possibilidades. E é por isso
que sei porque eu mudo tão depressa, porque não suporto me sentir vulnerável ou
sem conhecimento. Quando eu perco um raciocínio, um gesto, me sinto em pânico.
Um pavor que minutos atrás era tranqüilidade por saber exatamente o que
aconteceria a seguir. Tenho medo da altura da montanha russa, mas a cegueira me
apavora. Odeio me sentir cega. Não tenho palavras pra descrever como é
solitário isso aqui, essa loucura toda na minha cabeça. É infinita.
sábado, 21 de março de 2015
a sujeira que eu sou
Eu sou como um cano de pia que ficou aberto por muito tempo. Sabe o que acontece quando se tira o filtro? Tudo passa deixando um vazio ali. Mas o cano ficou aberto por tempo demais... Coisas se acumularam no fundo e eu juro que tentei colocar o filtro, mas já estava entupido demais. Sabe a solução que restou? Água quente. Tenho que jogar água quente pra limpar o cano. Ah, eu já coloquei a água pra ferver tantas vezes! Só que sou covarde demais pra reclamar, digo derramar. Não posso. Por quê? Porque vai doer, afinal eu sou humana também e é água quente, vai queimar tudo, talvez até destruir o que eu quero que fique inteiro. O problema é que a sujeira do cano se tornou parte de mim.
entre quatro paredes
Estar entre quatro paredes é a melhor sensação de todas! Não precisar fingir que está tudo bem, não precisar mascarar nada: o som histérico da minha voz assustando as pessoas, meu sorriso pouco convincente, o olhar vago... Se eu pudesse me ver sozinha diria que é uma imagem triste, deprimente, nada do que eu quero passar pros outros. Mas então, eu estive pensando, de tudo que eu observo no meu silêncio, de todas as coisas que eu não perco: podia ser pior que isso. Mais deprimente do que estar completamente só é estar o tempo todo buscando atenção dos outros, o tempo todo rodeado por gente e estar só, mas tendo que fingir. Vejo centenas dessas pessoas passando por mim na rua e posso dizer que, sinto muito pena. Pena porque elas não conhecem a felicidade mais do que eu, pena porque, apesar de estar deprimida eu gosto da minha própria companhia, gosto de estar só, do alívio de não precisar fingir nada, gosto dos meus pensamentos, das minhas piadas e de poder pensar nos meus medos. Mas e essas pessoas só sorrisos sempre envolta de uma multidão? Será que elas aguentariam elas mesmas entre quatro paredes? Ou elas se esforçam pra nunca ter que sentir a sensação, já que não suportam a si mesmas? Será que em uma escala numérica quem seria mais medíocre, eu ou elas? Admito que pra minha mente doentia a resposta seria que eu ainda - por alguns décimos - sou menos medíocre, porque posso ter momentos realmente felizes sozinha, eu não fujo de mim mesma, eu enfrento meus defeitos, aceito meus erros e me julgo melhor do que qualquer um porque eu moro aqui há anos da minha existência. E, mesmo sentindo pena desses miseráveis que não suportam a si mesmos, o meu egoísmo fala mais alto e eu me sinto grata. Grata por ter quem apontar e dizer: podia ser pior, podia ser como ele entre quatro paredes.
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